“Somente os tolos exigem perfeição, os sábios se contentam com a coerência.” Provérbio Chinês
Ao longo da nossa experiência na facilitação de grupos, em processos de coaching e assessments, um ponto chama a atenção por estar presente direta ou indiretamente na fala dos participantes: como ser autêntico e coerente nas relações e nas escolhas profissionais.
Em processos que buscam a consciência como fator fundamental para impulsionar mudanças é comum nos depararmos com esse questionamento. No esforço por mais autenticidade, esbarramos na visão do consultor de líderes Kevin Cahsman e autor do livro Liderança Autêntica, o qual baseia uma visão integrada deste tema em quatro pilares principais:
1. Propósito: líderes autênticos são capazes de articular um propósito claro e convincente para si mesmos e para suas equipes. Eles têm uma compreensão profunda do que fazem e o que fazem, e são capazes de inspirar outros a se juntarem a eles nessa jornada.
2. Valores: os líderes autênticos são guiados por valores sólidos e consistentes, e são capazes de integrá-los em suas decisões e ações diárias. Eles são autênticos em sua comunicação e se comportam de maneira coerente com seus valores.
3. Coragem: os líderes autênticos têm a coragem de ser vulneráveis e de enfrentar os desafios de frente. Eles são capazes de admitir seus erros e aprender com eles, e são abertos a receber feedbacks construtivos.
4. Relacionamentos: os líderes autênticos são capazes de construir relacionamentos duradouros e significativos com seus colegas de trabalho e equipes.
Bill George, professor da Harvard Business School e autor do livro, O Líder Autêntico, vai nesta mesma linha trazendo que este é um modelo de liderança baseado na ideia de que os líderes mais eficazes são aqueles que são autênticos.
Ou seja, que têm uma forte compreensão de si mesmos e de seus valores e são capazes de liderar de forma consistente com esses valores.
A construção dos relacionamentos através da autenticidade se conecta com as pessoas em um nível mais pessoal e humano, tendo como base a confiança. David Meister em sua fórmula da confiança, já menciona a intimidade como um fator de sua equação. Uma relação próxima e autêntica consagra as relações.
Para conhecer a fórmula da confiança, confira o artigo "Como está a relação de confiança no seu time?".
Para entender o quanto isso impacta os relacionamentos é perceber que quando alguém quebra essa confiança construída, há consequências negativamente duradouras na relação. A intimidade por meio da proximidade e a autenticidade é o que protege as relações.
A liderança autêntica também enfatiza a importância do desenvolvimento contínuo do líder. Isso envolve um processo de autoconsciência, no qual o líder procura entender seus pontos fortes e de desenvolvimento, seus valores e suas paixões. O feedback é fundamental neste processo, não só oferecer, mas estar aberto a receber.
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Ao fazer isso, eles são capazes de levar o time para um estado maior satisfação no trabalho e trazer melhores resultados para a organização.
Mas dá para ser autêntico sem ser coerente?
Se a autenticidade é forma como nos expressamos no mundo, a coerência interna é o que alimenta o ser autêntico. Não dá para ser autêntico só uma vez ou com uma determinada pessoa ou grupo. Para que haja autenticidade é preciso coerência, e isso é percebido na consistência de como as relações são construídas e nutridas ao longo do tempo.
A coerência é um conceito multifacetado, que pode ser abordado a partir de diferentes perspectivas.
Em uma perspectiva mais subjetiva, a coerência pode ser compreendida como uma das dimensões fundamentais da identidade construída por esse líder, que envolve a capacidade de manter uma continuidade narrativa e temporal da própria história de vida.
Essa coerência de vida pode ser construída a partir de diferentes fontes, como a religião, a cultura, as experiências pessoais e profissionais. Em suma, é a maneira como ligamos os pontos da nossa biografia e como damos significado a essa história.
Aaron Antonovsky, sociólogo e pesquisador que propõe um conceito de coerência pela visão da salutogênese - em que o indivíduo mantém ou promove a saúde emocional através da capacidade de compreender os eventos adversos da vida de maneira significativa - traz em sua abordagem a ideia central da salutogênese em que a saúde não é simplesmente a ausência de doença, mas sim um estado de equilíbrio e bem-estar físico, emocional e social.
A construção e manutenção das relações são indissociáveis deste conceito de promoção de saúde e é o que resulta na capacidade de resiliência humana.
A coerência de Antonovsky é composta por três componentes: a compreensão da realidade como coerente e estruturada, a capacidade de gerenciar o estresse e a habilidade de encontrar significado e propósito na vida.
Compreensíveis: que fazem sentido e são compreensíveis para a pessoa;
Significativos: que são relevantes para a pessoa e valem a pena ser investidos;
Gerenciáveis: que a pessoa tem recursos e habilidades para lidar com eles.
Quando pensamos na trimembração da Antroposofia, podemos fazer uma relação destes componentes com o PENSAR-SENTIR-AGIR por meio de questões como:
A busca por coerência é uma necessidade humana fundamental, que pode levar à realização pessoal e profissional, bem como à promoção da saúde e do bem-estar geral.
Ao encontrar coerência, compreendemos nossas experiências e emoções, e construímos uma filosofia de vida que nos permite enfrentar os desafios de forma mais resiliente e positiva.
Coerência e autenticidade estão intimamente relacionadas. A coerência é importante para uma organização e nitidez interna, enquanto a autenticidade é uma expressão de integridade e honestidade.
A ausência de coerência e a falta de autenticidade na expressão pode ser prejudicial nas relações.
No campo organizacional, a comunicação destes líderes pode soar falsa, desconectada ou manipuladora, o que pode levar à desconfiança e desengajamento por parte da equipe, prejudicando a resolução de problemas e a tomada de decisões.
Em resumo, é preciso inspirar a coerência para exalar a autenticidade. Quanto mais coerente eu sou, mais autenticidade tem a minha expressão e mais resiliência desenvolvo a partir daquilo que aprendo sobre mim e sobre o outro.
Um ciclo virtuoso que acontece de dentro para fora e que é retroalimentado pelas relações humanas. Lidando com os desafios da vida e nos colocando no mundo da maneira que podemos ser e com as condições que temos, conseguimos ter melhor saúde emocional, inspirar times e alcançar melhores resultados.
Michele Crevelaro
Psicóloga e Facilitadora de diálogos
Na busca contínua por um viver coerente e autêntico.
Referências bibliográficas:
Antonovsky, A. (2000). The structure and properties of the sense of coherence scale. Social Science & Medicine, 36(6), 725-733. https://doi.org/10.1016/0277-9536(93)90033-z
Cashman, K. (2008). Liderança autêntica: descubra sua voz interior e inspire os outros a fazer o mesmo (1ª ed.). Editora Sextante.
George, B. (2007). O líder autêntico: descubra como se tornar um líder visionário e inspirador (1ª ed.). Editora Planeta do Brasil.
Maister, D. H. (2001). A fórmula da confiança: Como desenvolver o talento para lidar com mudanças, ambiguidades e incertezas. Campus.
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