Ontem, quando abri a janela do quarto, vi na sacada do prédio vizinho uma criança. Era um menino de mais ou menos uns 11 anos. A sacada era pequena e com grade. Numa mão o menino segurava uma lata com linha enrolada. Na outra tinha a linha, em cuja ponta estava amarrada uma sacola verde de supermercado. O menino soltava pipa. O primeiro sentimento que me veio foi de aperto no peito, de dó. Ver o menino atrás das grades de uma pequena sacada, numa cidade indiferente, soltando uma pipa que nem era de verdade me fez achar a vida um tanto dura. Mas logo percebi que essa era a minha lente. E a lente de um adulto. Tentei olhar aquilo tudo com os olhos do menino. E tudo pareceu uma grande aventura! Ele estava soltando a pipa que ele mesmo fez, com sua criatividade e os materiais que encontrou em casa. E ele, junto com sua pipa, quase podia tocar o céu, no alto do décimo quinto andar. Talvez aquela pipa tivesse para ele as dimensões de um foguete. Talvez, como ela, ele estivesse viajando para lugares que só corações puros e almas livres podem alcançar. Talvez não fosse nada disso. Talvez o menino quisesse mesmo estar correndo solto na praia, na rua, no campo. Não sei. Não saberei. O que sei, apenas, é sobre o que senti a partir das lentes que usei. E sempre posso escolher lentes mais leves e coloridas. Como a pipa verde do menino.
Ana além de Coach, Facilitadora de grupos e Administradora é uma eterna buscadora de novas lentes para compreender o mundo e si mesma.
A foto que ilustra o texto é de Sophie Vela, 14 anos, premiada no "Children's Eyes on Earth Photography Contest", uma premiação de 2012, criada pela IDEA (International Dialogue for Environmental Action) para conscientizar sobre os desafios ambientais do mundo. Mais infos e imagens aqui: http://www.amusingplanet.com/2012/11/winning-images-of-children-eyes-on.html